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Hiperactividade e actividade a menos

“Aquele miúdo só pode ser hiperactivo”. A quantidade de diagnósticos feitos na rua é enorme, muito superior aliás à real taxa de crianças diagnosticadas com PHDA em todo o mundo – 5%.

Algo que parece tão fácil de diagnosticar na verdade não o é: afinal, o que é mexer-se de mais? A partir de que momento deixa de ser apenas perturbador para quem avalia e é patológico? A comunidade científica ao longo dos anos, para além de ir mudando o nome desta perturbação, tem desenhado critérios bem definidos para o diagnóstico desta disfunção, sendo claro que o excesso de movimento se tem que fazer acompanhar de uma dificuldade em manter a atenção focada e/ou impulsividade, de acordo com os sub-tipos.

Outro dado evidente para a comunidade científica neste tema é a sua etiologia nada clara. Se não, vejamos. Factores como a gestação, o parto, traumatismos craneo-encefálicos, genética e hereditariedade, alimentação, condições socio-económicas são todos apontados como potenciais factores de risco. Trocando por miúdos (& graúdos!), quando falamos de predisponentes da hiperactividade falamos de factores genéticos, biológicos e fisiológicos, sociais e ambientais.

Ficando evidente a pluralidade na origem, não é tão claro assim que o seu tratamento tenha em conta essa pluralidade. Perante uma criança diagnosticada com PHDA, o acompanhamento médico é vital, por forma a, como já falámos, o diagnóstico ser feito de forma criteriosa. Em muitos casos é necessária a intervenção medicamentosa – se bem que alvo de críticas pelos efeitos secundários e por não existir evidência dos seus efeitos a longo-prazo. Também o acompanhamento por parte da psicologia, pedagogia, pais e educadores é crucial e permite bons resultados por conferir estratégias tanto em casa como na escola.

Intervém-se (e bem!) no cérebro a fim de diminuir a hiperactividade do corpo. Na minha opinião, a intervenção (e análise) desse mesmo corpo acaba por ser descurada. Chamem-lhe defeito de profissão, no entanto dada a etiologia multi-factorial, creio que a abordagem ganha em também o ser.

E os estudos parecem apontar para isso mesmo.


Por um lado, sabe-se que a grande maioria das crianças com PHDA parecem apresentar atraso no desenvolvimento psico-motor, daí que seja importante que o fisioterapeuta, conhecedor do desenvolvimento motor normal e das suas alterações, possa avaliar e promover o ganho de competências motoras da criança.

Por outro lado, a actividade física para qualquer criança é importante, sendo crucial nestes casos em que se trata não só de gastar este “excesso” de energia mas também ensinar a criança a canalizá-la para uma actividade em que tem que estar concentrado, cumprir regras e saber interagir com os outros. Vários estudos demonstraram bons resultados do exercício físico em crianças com esta perturbação nomeadamente no neuro-desenvolvimento e na capacidade de atenção mantida. Em 25% dos casos verificam-se problemas de auto-estima e aqui a actividade física pode mostrar à criança de que é competente numa actividade se aplicar a energia e concentração necessárias. Interessa escolher a actividade física certa de acordo com os gostos da criança e as competências a adquirir. Actividades como a natação, artes marciais, atletismo, ginástica, futebol são óptimos exemplos de disciplina e rigor, tão importantes para estas crianças.

Não menos importante, interessa analisar a estrutura do crânio em si.



De um ponto de vista estrutural, e de acordo com a visão osteopática, uma alteração da estrutura óssea do crânio (por pressões no momento do parto ou nos primeiros meses de vida) pode influenciar o desenvolvimento da estrutura que está exactamente por dentro, o cérebro. De uma forma mais simples, um crânio que não cresce da mesma forma em todas as suas partes poderá levar a um menor desenvolvimento da área do cérebro correspondente.

As crianças que sofrem de PHDA parecem ter um cérebro diferente: em grande parte dos casos o cérebro é ligeiramente menor, principalmente a nível do cerebelo e da quantidade de substância branca. Se o primeiro é responsável pela coordenação motora e articulação entre diferentes partes do cérebro, a segunda está presente nos diferentes lobos cerebrais e funciona como um isolante que facilita a condução dos impulsos elétricos. A razão pela qual isto acontece não é clara mas pode ter que ver com a gestação ou o parto.





Ao procurar devolver a normal mobilidade das partes do crânio, estaremos a melhorar a vascularização cortical e, portanto, a melhorar a sua função. Assim, a terapia manual pode contribuir para um melhor funcionamento cerebral da criança com PHDA através da melhoria da mobilidade cranial, se bem que os mecanismos ainda não sejam totalmente compreendidos. Um estudo italiano (Accorsi, et al, 2014) demonstrou que a terapia manual melhorou a capacidade de atenção selectiva e sustentada em crianças com PHDA, aparentemente por diminuir a excitabilidade neurológica.

Para não me alongar – e porque já devo estar também a desafiar a sua capacidade de atenção mantida - hiperactividade é bem mais do que excesso de movimento.

Da mesma forma, há muito a fazer para além da redução desse excesso: interessa ajudar a criança e os seus pais a encontrarem um equilíbrio fisiológico, físico, mental e emocional.



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